terça-feira, 12 de dezembro de 2017

O pior da vida... #2

O estado de saúde foi piorando gradualmente, foi perdendo peso e querendo ficar cada vez mais tempo na cama... entretanto começaram a surgir infeções (ainda por cima assintomáticas) e os últimos tempos foram passados entre consultas e urgências, por causa ora de infeção urinária ora de desidratação (para além da dificuldade em comer, mais para a frente também em beber água)

Ele estava cada vez mais débil e já passava tanto tempo na cama que começámos a ficar preocupadas (eu e a minha irmã) com as escaras e preparávamo-nos para que ele ficasse acamado...
No dia em que a minha irmã arranjou a cama articulada e a cadeira de rodas, ele estava realmente prostrado e começou a ter dificuldade em respirar. A minha irmã chamou o 112, e eu ia acompanhando pelo telefone.

Só percebemos o estado dele quando o 112 chegou e depois de o observar fez uma chamada dizendo ter um doente em estado crítico e a pedir que o médico se encontrasse com eles no caminho para o hospital. Acabou por ser assistido ainda na auto-estrada (a minha irmã ia no carro atrás)

Como é que nós não percebemos a gravidade do estado dele?!?
Numa das últimas consultas, em Agosto, dissemos que ele tinha alguma dificuldade a respirar durante a noite (conforme a cuidadora tinha alertado).O médico auscultou-o, mandou fazer raio-X (fez no mesmo dia) prescreveu medicação e explicou-nos novamente como é esta doença, e que devíamos não insistir com ele, a única coisa a fazer era deixar a doença progredir...

Deu entrada no Hospital ao fim da tarde de 7 de Setembro (o dia do aniversário da I*) e foi-lhe diagnosticada uma infeção pulmonar em estado muito avançado... incompatível com a vida (nas palavras do médico)... escusado será dizer que o dia seguinte foi passado no hospital com a minha irmã e sobrinhas. Despedimo-nos dele (apesar de ele já não falar, ainda mostrou reação à voz da minha irmã). O que nos estava a custar ainda mais era ter que o deixar sozinho no hospital, quando o médico nos disse que muito provavelmente não passava dessa noite. Graças à boa-vontade da equipa foi-nos autorizado (contra as regras) ficar uma pessoa com ele durante a noite (ainda na sala de observação das urgências). Fiquei eu com ele, e a noite foi passada entre despedidas, miminhos e orações... acabou por morrer ao início da manhã.

Neste processo, estando eu longe, a minha irmã sempre foi muito mais presente do que eu... por isso foi tão importante para mim ter conseguido estar presente quando ele partiu. Também foi muito bom ter passado bastante tempo com ele antes de ele morrer (nas férias de Agosto durante quase todas as tardes substitui uma das cuidadoras que estava de férias).
Num dos dias levei-os à Igreja e receberam os dois a Extrema Unção - ele não se cansava de dizer que precisava de Paz no corpo e na alma.

Agora, está certamente em Paz...

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

O pior da vida...

Um dos motivos que me manteve longe da blogosfera foi dos piores possível... não há nada pior do que perder as pessoas que amamos!

No dia 9 de Setembro de 2017 faleceu o meu pai.

Nunca aqui falei na doença dos meus pais porque escolhi não o fazer, mas a morte do meu pai é incontornável... não dá para evitar o assunto. E talvez também me faça falta escrever sobre isso...

O meu pai tinha feito 88 anos em Agosto. Uma idade bonita...
Há cerca de 6 anos que tinha um diagnóstico de Alzheimer, que progrediu de forma rápida (pelo menos muito mais rápido que a minha mãe que já tem o mesmo diagnóstico há quase 15 anos)

É uma doença tramada... de alguma forma as pessoas vão "desaparecendo" pouco a pouco. A memória vai falhando progressivamente, até que ficam as recordações da infância e juventude (o meu pai insistia que tinha de ir dar de comer aos animais na casa onde foi criado, apesar de já não morar lá há mais de 60 anos...)
Custa quando deixam de nos conhecer (aos familiares) mas conseguimos lidar com isso ao percebermos que apesar de não saberem quem somos o sentimento quando nos vêm continua a ser o mesmo (o mesmo sorriso e os olhos que se iluminam). Neste aspeto, o meu pai tinha dias melhores e outros piores (uns dias reconhecia-nos e noutros não)

Quando, apesar do Alzheimer, eles estavam bem fisicamente, foi mais fácil de levar... houve uma altura maravilhosa, há uns dois anos, talvez, que eles andavam felicíssimos, e diziam:
- Nunca estivémos tão bem... temos saúde, não temos que fazer nada, passeamos os dois, conversamos um com o o outro...
(a parte boa do Alzheimer é que os próprios deixam de ter consciência da situação em que se encontram...)

Depois disso o estado de saúde do meu pai foi piorando devagarinho... não tinha apetite (ele tinha também problemas renais) e foi perdendo peso gradualmente. Era um castigo para o convencer a comer... ele dizia que não conseguia comer sem vontade.

(afinal tenho tanta coisa para escrever... continuo amanhã)


segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Coitadinhos dos ratos

Tenho muita coisa importante para escrever, mas isso é capaz de levar um bocadinho mais de tempo...

Antes de mais, só para fechar o post anterior - acreditem ou não, mas a Câmara corrigiu o problema uma semana depois!


Agora, deixem-me só contar uma história maravilhosa da I* (antes que me esqueça!)

I*: Mas porque é que matam os ratos? Coitadinhos... são animaizinhos...

Pai: I*, tu sabias que a Peste Negra, que matou milhares de pessoas há umas centenas de anos foi transmitida pelos RATOS?

I*: Mas isso é guardar rancores! Coitadinhos dos ratos...